Numa visão humanista, podemos admitir que o amor é uma escolha e um processo de transformação constante. O objetivo como ser é o amor universal, uma vez que o amor não pode ser excludente. Seu crescimento implica em sua abrangência.O mor por uma pessoa é capaz de despertar o amor por toda a humanidade. Mas, por outro lado, pode não passar de um mimo narcísico para os amantes. Em face disto, a filosofia medieval interpretava o sentido de totalidade amorosa como Deus. Dizia que amar alguém era amar a pessoa em Deus.
” O amor a uma pessoa difere do amor a uma simples coisa. Amamos as coisas em atenção à nossa própria pessoa, a cujo serviço se ama e s consome…O amor puro, sincero e generoso a um ser pessoal, ao contrário, visa a pessoa como tal e a si mesma. ..
Amar sinceramente a outrem significa amá-lo como a nós mesmos, o que só é possível num plano de igualdade…(Boehner e Etienne, História da Filosofia Cristã,1991,p.189)
Se quisermos dizer que o amor enquanto relação amorosa é um crescimento de mãos dadas, precisamos completar tal sentença dizendo que isso pode ocorrer, mas a partir, igualmente, do desenvolvimento concomitante das singularidades. Duas pessoas não vão crescer da mesma forma e ao mesmo tempo. É necessário aceitar que cada uma delas está se comportando como pode naquele momento.É sua jornada pessoal.
Na verdade, viver no amor é o maior desafio da vida. Não se ama para ser amado, mas ama-se para amar. … O amor precisa de liberdade para crescer- não de arbítrio, mas da responsabilidade implicada em cada escolha que envolve não só o eu como o outro todo o tempo. Justamente por isso,não existe um amor certo como modelo único, mas muitas formas de amar. Através do autoconhecimento e do conhecimento do outro, o que não é feito por livros ou manuais de educação sentimental, mas forjados pelas vias da própria existência, de uma afinação sensível que envolve EU e TU, descobre-se que o amor ´algo construído na intersubjetividade e que na experiência amorosa há uma equalização do ama ao próximo como a ti mesmo, ou, o que dá no mesmo, amar a si mesmo é a condição de possibilidade de um amor ao outro.
” …para termos amor próprio, precisamos ser amados. A recusa do amor- a negação do status de objeto digno do amor- alimenta a autoaversão. O amor próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido por outros.” (Bauman, 2004, Amor Liquido, p.100)
Bauman não se atém, necessariamente, ao horizonte de inspiração de Sartre…, ou seja, a luta das consciências pelo reconhecimento. Trata-se da relação, necessária entre amar e ser amado, ou melhor, amar e sentir-se reconhecido, valorizado. … Como amamos alguém nos ausentando, pela má fé de nós próprios, apenas para cativar e manipular o desejo do outro para apontá-lo em nossa direção?
Estamos, pois, em algum lugar entre o conhecimento de si e a abertura para a inclusão do outro, entre amor ao outro e a autoestima. Na verdade, a existência implica ambos os polos, sem solução de continuidade; por isso, a formulação interessante de Buber, EU e TU.
Segundo Buber, existem duas formas de o ser humano se relacionar. A primeira designa como EU e TU, encontro entre o eu e o outro, onde o acento está no entre, na relação. A segunda chama de EU-ISSO, que é uma atitude objetivante de experiência e utilização. A relação é um evento que acontece entre o ser humano integral e o ente que se lhe defronta. Através do encontro dialógico ocorre a recíproca presentificação do Eu e do Tu. E elo, o entre dessa relação seria o amor. O amor não se encontra fundado, em primeiro lugar, no sentimento. Na dimensão Eu e Tu, o foco está na relação e não na alternância, ora do sujeito, ora do ser humano na condição de objeto. Segundo Buber, o amor é uma responsabilidade que temos para com o outro e é nisso que consiste a igualdade daqueles que amam. Essa igualdade não é nivelamento ou anulação das diferenças. Pelo contrário, é uma afirmação da alteridade, uma posição não mais vertical e hierárquica das relações, num embate perpétuo de poderes pela primazia da posse da liberdade através do olhar do outro…. O reconhecimento pelo outro traz um espelhamento de si mesmo. Tratamos de uma referência à liberdade que se faz na intersubjetividade, cuja máxima reza que, quando escolhemos, escolhemos não só para nós, mas para todos os seres humanos.
Excelente!! Como costumo dizer: estar com o outro ou na sua presença, é diferente de precisar do outro, de usá-lo como objeto. E, a meu ver, antes de tudo, precisamos amar à nós mesmos para podermos proporcionar amor para o outro, pois, do contrário, não saberemos e nem poderemos verdadeiramente saber o significado do que seja amor. Beijos…