Certo dia entrei em uma discussão com a minha oposição. Disse ela que amor não matava e eu lá, teimando que sim. Amor mata!!! Amor não mata!!! Claro que amor não mata!. Você não vê? Tantas pessoas por aí sofrendo, morrendo, entrando em vícios por causa de um amor perdido, por amarem e serem magoadas, traídas. Mas é claro que o amor mata, continuei no meu diálogo. Terminou tal discussão, mas cada qual com sua afirmação. Depois de um tempo, quando me vi na situação de que fui traída pelo o que acreditava ser o amor, estavam ali eu e minha afirmação: falei pra mim mesma, então o amor está me matando, mas como pode se fazia tudo para tê-lo, de estar junto dele? Não, não era amor que estava me matando! Era a falta dele!!! Sim, a falta dele estava me sugando, mesmo acreditando firmemente que eu tinha amor, estava eu jogada no desamor. Vivia fora, na busca incansável pelo amor em tudo, menos em mim. Buscava o amor, a relação e tudo que havia de belo e de aprovação no outro.
Em meio a tantas mágoas, raivas, tristezas, ansiedade, enfim, em meio a tanto desamor,deparei-me com o que havia feito da minha existência até aquele momento; via-me desamparada, sozinha, culpando quem havia feito aquilo comigo. Demorei pra então entender, não havia culpados! E sim uma única responsável- eu que fiz aquilo comigo! Como poderia estar colhendo tanto desamor, se apenas desejava o amor? Este é o cerne do problema: procurei tanto o amor que implorava do outro. Era eu que precisava me dar, mas como? Havia uma necessidade, uma busca de atenção e carinho de fora, que precisavam ser sentidas dentro. O fora só aumentava o meu apego pelo outro e o desapego comigo mesma. Estava escravizada pela necessidade da busca do amor. Para cessar aquela carência, colada em mim, tinha que encarar o espelho.
Há quantos anos vinha me maltratando? Olhei pra mim mesma! Foi aí que me percebi. Vigiei meus gestos , meus pensamentos e sentimentos que tinha colecionado sobre mim. Estava tudo ali! O desamor estava comigo e não com o outro! Dava-me tanto desamor, que quando encontrava qualquer pontinho de toda atenção e cuidado que eu não me dava, focava, como um laser, a busca de tudo o que precisava ali, neste ponto de aplicação. Mas como o laser, depois de algum tempo queima o que está a sua frente, vi-me queimando tudo ao redor, em busca de algo que estava dentro de mim. Eu tinha o poder! O poder de ser quem eu quisesse e, principalmente, o poder de mudar a minha história. Reconstrui-me com este novo olhar sobre mim e sobre o amor.
O que posso dizer desta experiência? Conheça-se, realize-se, respeite-se, cuide de si primeiro! Compreenda que o amor está em todas as direções, em tudo o que deseja e escolhe fazer. O amor está em você e em como escolhe olhar. Olhe-se com calma, quando a vida dá aquela rasteira, que muitas vezes só conseguimos focar no desmerecimento, tão presente na nossa sociedade. Os conflitos e medos costumam ser um alerta para termos atenção e não para nos deter. Ter uma vida interior ativa nos leva à refletir sobre o que sentimos, como sentimos e como pensamos. Será que isso me faz bem? O que é meu e o que não o é? Não há real crescimento se não for na verdade e no amor. Como aprendi, o amor está dentro de nós!
Agora a resposta ao título: O amor mata de fato? O amor não mata, mas a falta dele sim!
por: Catarina Valentim Willi Cabral da Rocha
Psicóloga clínica, aluna do curso de formação em Psicoterapia Vivencial.