Hoje escrevo sobre a industria do espetáculo. Chama-me muito a atenção sobre a violência e a degradação com a qual toda consciência tem sido alimentada por “degenerados” obcecados pela idéia de fazer fortuna. Parece existir uma estranha fascinação pelo profano e pelo macabro de pessoas ignorantes que vem sendo enfraquecidas com a segurança, o conforto e o luxo do século e que já não encontram nenhuma satisfação em si mesmas. Necessitam cada vez mais de excitação para estimular sua consciência esgotada.
Abrimos os jornais, ou vemos na televisão e nas redes sociais, horrores antes inimagináveis. Pessoas chutando cachorros de estimação até a morte, outros matando pintinhos em quantidades, outros matando seus parceiros, pais, filhos, etc. Sinto-me invadida por uma onda de violência que me traz asco e tristeza. Noticias diárias que me fazem questionar pra onde foi a humanidade; aonde está a dignidade e o respeito pelos demais.
As pessoas vem sendo alimentadas com os piores cenários possíveis pelo cinema, TV, livros e a mídia sensacionalista e se queixam de que a sensação de segurança de que antes desfrutavam agora foi destruída. Vejo pessoas atualmente protegidas por trás de cercas elétricas, muros altos, vigiadas por guarda-costas que traiçoeiramente assassinam pessoas que estão sob seus cuidados. Vejo hoje homens e mulheres que antes caminhavam sem medo à noite pelas ruas das cidades e pelas trilhas dos campos, agora se trancarem atrás de portas de segurança, temerosos dos mais desprezíveis e brutais ataques. Povos traumatizados pelos seus próprios compatriotas, genocídios, revoluções, bombardeios, assassinatos e matanças gratuitas de todo tipo. A vida transformou-se num inferno que as pessoas descrevem na televisão, cinema e literatura. Por quê? Porque a chamada “cultura” civilizada permite que a brutalidade, em todas as suas formas pervertidas, entre nos lares por meio da televisão, produzindo o estimulo, a excitação e a violência. Ninguém está imune a estes males e todos somos responsáveis por eles.
Todos lembram das Torres Gêmeas e o que aconteceu naquele 11 de Setembro. Na verdade,esta cena já havia sido mostrada em um filme americano. Já pensaram em quantos exemplos as pessoas imitam e às vezes sem mesmo perceber? No mínimo uma espécie de raiva ou um comportamento agressivo elas expressam diante do nada. É o bombardeio diário.
Se a vida das pessoas fosse verdadeiramente tão horrível como são aquelas mostradas nos programas de entretenimento a que elas assistem diariamente, dariam as costas às suas telas em busca de algo mais bonito e tranqüilo para descansar seu sistema nervoso torturado. E se você refletisse com sinceridade sobre as condições atuais de sua vida, perceberia que estas já se transformaram em uma amedrontadora imagem-espelho do que toda a industria do espetáculo deu a você nos últimos cinqüenta anos.
Em meu consultório tenho visto o reflexo de tudo isso nos medos, baixa-estima, pânico e uma superficialidade incrível. Muitas pessoas nem sabem dizer o que sentem quando indagadas. O olhar está sempre fora, dirigido para algo que não ela mesma. Perdeu-se o centro de referência! Muito triste ver tudo isso acontecer!
Hoje o tema de debate é a novela “Avenida Brasil”. Nada contra. Os atores estão desempenhando o seu melhor no papel exigido, mas a história tem levado as pessoas a torcer até pelos “bandidos”. Uma espécie de anti-herói tem se formado, o que talvez traga à pessoa uma espécie de identidade diferenciada. Onde estão a moralidade e a ética? Sinto que isso nem é questionado. Apreende-se e aprende-se por osmose. Toda a base de questões inteligentes, que levam os outros a pensar, a edificar, já não existe mais.
Quando as pessoas despertarem verdadeiramente para o que tem sido feito com as suas consciências em todo o mundo pelos magnatas ambiciosos, inescrupulosos e degenerados, elas sentirão muita raiva. O publico começará a reconhecer as formas insidiosas pelas quais vem sendo seduzido para que caia nas redes da abominação. Quando isso acontecer,você não achará a palavra “abominação” antiquada e fora de moda. Você perceberá a diferença entre as formas de consciência vivificantes e os padrões de consciência destrutivos. Os valores éticos ensinados nas escolas precisam ser questionados. Não são as religiões que tem que ser ensinadas nas escolas,mas um tipo de filosofia pra vida, as atitudes, as reflexões, os conflitos e as afirmações apoiadas ou toleradas nas escolas do futuro, tanto pelos professores quanto pelos alunos. A ênfase então será no ensino de idiomas, artes, lógica, a arte de comunicação eficaz e inspirada, do desenvolvimento da imaginação criativa e construtiva, da matemática, das ciências e das habilidades manuais. Deveriam as escolas mostrar à criança infeliz como a alegria e a felicidade podem ser alcançadas e ela será recompensada com o sucesso.
Será isso possível? Sim, não é uma utopia, mas para que tudo isso aconteça é necessário a volta do olhar introspectivo. As questões somente surgem quando estão sob este olhar. Quando isto acontece, gera a possibilidade de busca de níveis mais elevados de pensamento e do interesse em servir os menos favorecidos e da comunidade em geral. Apenas desta forma se construirá uma sociedade melhor e mais humana.
Olhe para os seus próprios processos de pensamento, suas próprias atitudes diante da vida, seus sentimentos em relação aos outros e a si mesmo, e descubra em que tipo de pensamento e expectativas você entra normalmente. Se voce tem passado por más experiências constantes, examine-se e verifique qual o tipo de expectativas negativas sua mente nutre. Você não é a vitima do seu destino- até que compreenda que a sua consciência é completamente moldada por você mesmo, é vitima de sua própria consciência criativa.
Portanto, a resposta mais eficaz para enfrentar os difíceis tempos atuais é o exame de nossas próprias convicções. Mudar não é sinônimo de fraqueza! Somente os fortes são capazes de se revisar. Desejo boa sorte e força pra todos aqueles que estiverem entrando neste processo.
Pois é minha querida mestra… um grande desafio para todo ser humano – voltar o olhar para si mesmo. Difícil? Sim, ainda mais numa sociedade em que a tela se tornou um possível refúgio. Refúgio de ver a própria tela. Mesmo assim, difícil não é sinônimo de impossibilidade, pois podemos com toda bravura de existir voltar novamente nosso olhar para quem de direito faz a vida de fato acontecer – nós seres humanos.
Grande beijo e saudades…
Marlos Cordova