Fui convidada para discorrer sobre o tema “corações partidos”, mas minhas idéias não foram bem apresentadas, de forma que decidi expô-las aqui, aos interessados no tema. O interesse era enumerar as possíveis saídas para as pessoas que vivem a dor da separação e não conseguem curá-la. Antes, porém, de focar nas práticas de solução, precisamos entender como o problema se forma.
A dor do coração partido é uma metáfora usada para definir um término difícil, quase insuportável. De fato, o sentimento de perda pode ser vivido tão intensamente que transforma este período em uma sensação física, muitas vezes dilacerante. Insônia, perda de apetite, dores no estômago, tensão muscular e outros sintomas, são algumas das reações de um organismo preso a uma forte perda. Não há remédio que faça a dor desaparecer, fazendo-se necessário encarar o problema de frente. na lista de antídotos para o alívio dessa dor estão o tempo, o apoio social, as atividades relaxantes, novos projetos, etc.
Normalmente, as pessoas criam muita expectativa de encontrar a sua “metade”; alguém que as faça sentir completas. Músicas, novelas, romances, eternizam essa idéia romântica distorcida, de que existe uma versão humana que preencha o vazio construído ao longo de sua existência. Buscam, desta forma, seus complementos. Contudo, na verdade, o caminho deveria ser outro: se estou inteira, não preciso de complemento e sim, suplemento.
Por que esta busca por inteireza? Tudo se resume numa palavra: estima. Construímos uma auto imagem e nela depositamos uma certa quantidade de afeto, denominada autoestima. Pessoas com boa autoestima costumam se aproximar e atrair pessoas que estejam na mesma condição. Procuram o autoconhecimento, a alegria da troca, sem a expectativa de que cabe ao outro fazer a sua felicidade acontecer; elas a fazem. As de baixa autoestima, ao contrário, atraem situações de igual teor energético e reforçam o vazio, chamado desamparo, a cada escolha que fazem. A procura do outro como responsável pela sua felicidade e inteireza faz-se presente constantemente. A expectativa cresce e o outro precisa responder a todos os paéis que lhe faltam: pai/mãe, amigo(a), etc. A relação se mantém nesse prisma e, claro, é fadada ao fracasso. Quando advém o término, um pedaço de si vai junto e o luto traz dores, acompanhadas da sensação de fracasso, o que aumenta ainda mais o desamparo. Tudo porque é ensinado que o amor está fora e precisa ser encontrado. E se eu disser que o amor pertence à pessoa e que o outro apenas o desperta? Somos o amor que buscamos no outro pela própria incapacidade de enxergarmos que o outro apenas aponta pra ele.
Mas por que não vemos isso? Porque voltamos o nosso olhar pra fora, fazendo um escape de nós mesmos enquanto consciência. Quando o autoconhecimento se amplia, e com ele a autoestima, podemos compreender melhor esta visão. Apaixonamo-nos por nós mesmos e, nesse momento, o outro é contemplado. Resulta daí uma relação saudável e suplementar. Caso este relacionamento finde, não há perda do eu. O luto natural de uma perda é vivido sem depressões ou dores de qualquer espécie. A isso eu chamo de inteireza. Esta pessoa tanto pode viver sozinha, já que a sua companhia lhe é agradável, como pode partilhar com alguém, sem o perigo de se perder no outro.
Mas como podemos fazer para sanar as dores, no caso de baixa autoestima? Existe um caminho que ajude? Primeiro a pessoa precisa se olhar e verificar o que está fazendo com as suas escolhas. Tem cuidado de si? Tem entrado em contato com as suas carências? A busca pelo autoconhecimento é, então, a primeira coisa que deve fazer para que a aprendizagem da situação se estabeleça.
Normalmente, quando a relação se esgota, as pessoas ficam lembrando dos momentos maravilhosos que passou com o parceiro. estudos publicados no Journal of Experimental Psychology apontam que encarar o ex sob uma ótica negativa pode ser bem mais interessante, para se recuperar desta fase. Não se trata de desenvolver uma raiva pela pessoa, mas reavaliar o relacionamento, examinando a sua parte nele. O foco no que foi ruim traz uma visão mais realista para que a pessoa perceba que não há motivo para querer voltar. Percebe as muitas idealizações projetadas e isso é de grande valia. Toda a rotina da relação, ao invés de ser endeusada, ajuda a vê-l como algo a ser derrubado. Mas tem que se ter cuidado para não trocar o amor pela raiva. De nada adianta resolver externamente, se no interior a pessoa se mantém ligada pela raiva. Olhar o que foi negativo é apenas uma forma de não embelezar algo que já não é mais belo, que não serve mais para ambos. Usar o negativo para minimizar o sofrimento é libertador. Claro que se a pessoa começou a se gostar mais, o tempo de duração da sofreguidão costuma ser bem menor.
Fazer algo positivo também pode ajudar. Atividades prazerosas e boas companhias retiram o olhar da auto piedade. Na inação o pensamento vai para a dor!
O tempo também é de grande valia. Tudo nessa vida passa e é preciso ter consciência disso. Tentar preencher este vazio imediatamente com outra pessoa, traz todos os problemas anteriores para a nova relação e, o que é pior, não soma nenhuma aprendizagem.É necessário se desintoxicar! O tempo é o melhor indicador de que a dor está diminuindo, libertando o seu dono. Contudo, se esta sofreguidão perdurar, a ajuda profissional pode ajudar a libertá-lo.
Concluindo, a dor do “coração partido” existe, traz consequências físicas e psicológicas, mas pode ser ultrapassada rapidamente se o foco for a restauração de si, enquanto um ser completo. A consciência de que o amor está dentro e que não precisa fazer do outro o instrumento da sua inteireza, é fundamental. Portanto, a melhor saída é o aumento da autoestima iniciado pelo autoconhecimento. As escolhas passam a ser mais conscientes e a opção por si transcende a ideia mágica de que alguém a preencherá.