A complexidade do mundo atual parece estar, dia a dia, se tornando maior e com isso o homem sente-se também envolvido por ela. É claro que as conseqüências de tal situação se refletem em seu comportamento na família, no trabalho e na sociedade. A cada passo, necessita este homem de meios aptos para superar e, na medida do possível, desfazer a complexidade ambiental. Muitas vezes, sem saber de sua responsabilidade nesta complexidade, o homem realiza as suas escolhas de maneira vaga, entendendo ser mais uma vítima de todo esse emaranhado que vai sendo tramado. Perdido, luta pra encontrar saídas na exterioridade. O resultado é o acumulo de angústias, de frustrações, o que reforça ainda mais a confusão a que se vê envolvido. É que toda a nossa dificuldade é uma pretensão, a pretensão de já saber o que é viver. E não pretendemos apenas saber, mas achamos que sabemos até o fundamento desta nossa pretensão, de acordo com Carneiro Leão. Vivendo, todos fazemos a experiência da vida e não pode ser de outro modo!
Somos as escolhas de nossas vidas e, é claro, estas escolhas afetam tudo. De acordo com Luis Veríssimo, “A liberdade é muito mal compreendida. Parece, a principio, um substantivo abstrato que tem o valor prático, pois acaba funcionando ideologicamente como a oportunidade ou o desejo de libertar-se de responsabilidades, de problemas, sobretudo limites. O senso comum acredita que liberdade é uma realidade dada que implica em fazer o que bem aprouver, o que der vontade, realizar a vontade sem restrições, pôr-se à vontade, sentir-se sem o olhar diante do outro, sem preocupações ou limitações.” Na verdade, esta é a contramão da visão existencial que defende a idéia de que somos livres porque escolhemos ser. Escolhemos o nosso destino; optamos por ser de uma forma e não de outra. Contudo, não haverá liberdade sem as barreiras naturais da vida e ao ultrapassar estas muralhas é que podemos experienciar a verdadeira liberdade. Existir faz-se nas ações, pois escolhendo estamos agindo, ainda que a opção seja a inércia. Escolher é arriscar-se e o risco é necessário para que todas as possibilidades sejam avaliadas.
Sabemos que a liberdade é geradora de angústia. Não somos preparados para confiar nas nossas respostas imediatas, sem algum “script”. Mas a angustia, vista como um sintoma patológico, nada mais é que um sinal, tal como a febre o é diante de uma infecção, indicando que algo está ali e precisa ser olhado, com serenidade.
Sartre foi o maior representante deste pensamento. Todos os momentos da vida de Sartre foram uma forma permanente de reflexão engajada sobre os problemas da existência humana. Em toda a sua obra, quer nos romances, quer nos tratados filosóficos, expõe a liberdade como tema principal e nos mostra como fugimos dela, sem saber que seriamos mais felizes e coerentes se a assumíssemos. Ter a rédea de nossa própria vida é algo desejado, mas tão temido! Espera-se ter respostas prontas , mas elas têm que ser criadas. Na verdade, “não há saídas a escolha, justamente esta é a saída”(Gertrude Stein).